Entre fios de palha e grãos de areia: memória, esquecimento e escrita
Resumo
A memória age através de mediadores ou também de metáforas. As duas metáforas indicadas, o fio de pallha e o grão de areia, decorrem da reflexão de alguns filósofos fundamentais para a apreensão do funcionamento da memória: Walter Benjamin e G.W.F. Hegel. O primeiro remete para o delicado mas essencial dispositivo da rememorção que permite opor a memória às perdas provocadas pelas falsas ilusões do historicismo. O segundo para expressar, numa tradição que possui profundas raízes literárias, a aridez e as penúrias ativas do esquecimento. Trata-se de dois exemplos que mostram como a dialética entre memória e esquecimento pode encontrar na escrita - nas imagens proporcionada pela escrita que por sua vez se funda sobre um denso estrato figurado- um vasto terreno de reflexão. Esta permite pensar criticamente no resto do passado e formular assim uma sua possibilidade de salvação ou uma sua ética do re-uso. A grande aporia do nosso tempo.
Nota biográfica
Roberto Vecchi é professor catedrático de Literatura Portuguesa e Brasileira na Universidade de Bolonha. É coordenador da Cátedra Eduardo Lourenço e Honorary Professor (2018-2021) of Lusophone Studies na Universidade de Nottingham. É presidente desde 2014 da AIL, a Associação Internacional de Lusitanistas. Com Vincenzo Russo publicou em italiano o volume antológico da literatura portuguesa, La letteratura portoghese. I testi e le idee (2017).