AUTONOMIA ESTÉTICA E COMPROMISSO CÍVICO NA HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL
O equilíbrio entre a defesa da autonomia estética do criador e o sentido do compromisso com os valores e as causas do bem comum foi, a longo de toda a História da Música Ocidental, uma construção difícil – e por vezes contraditória – para os compositores. Da preocupação obsessiva com a definição de um “ethos” musical por parte de pensadores da Antiguidade como Platão e Aristóteles ao “Who cares if they listen” de Milton Babbit; da colagem às raízes das Músicas Populares tradicionais como afirmação de uma sensibilidade clássica em Rousseau à adopção do mesmo princípio como veículo de construção de músicas nacionais identitárias; da legitimação do princípio de uma vanguarda experimental auto-validada com a “Música do Futuro” de Wagner e Liszt à Música militante de Kurt Weill, a criação musical ocidental foi oscilando entre estes dois polos, ora concedendo a um deles uma primazia absoluta ora encontrando modalidades de negociação artística entre ambos. A minha intervenção consistirá na apresentação comentada de alguns curtos exemplos musicais que documentam estas várias posturas.
Nota biográfica
Rui Vieira Nery nasceu em Lisboa em 1957. Licenciado em História pela Universidade de Lisboa e Doutorado em Musicologia pela Universidade do Texas em Austin, é presentemente Professor Associado da Universidade Nova de Lisboa e Director do Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas na Fundação Calouste Gulbenkian, bem como Investigador do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança e do Centro de Estudos de Teatro. Autor de uma vasta bibliografia sobre temas de História da Música Portuguesa e Ibero-Americana, desenvolve também uma intensa actividade de conferencista, tanto em Portugal como em vários países europeus, nos Estados Unidos e no Brasil. É Sócio Correspondente das Academias Portuguesa da História, Nacional de Belas Artes e da Marinha, membro individual do Conselho Nacional de Cultura e do Parlamento Cultural Europeu, e recebeu, entre outas distinções, a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, o Prémio de Património Cultural Imaterial do Centro Internacional de Preservação do Património e o Prémio Universidade de Coimbra.